92 99407-3840

Oposição pede CPI do Arroz e bancada ruralista lamenta perda de interlocutor no governo

Ex-deputado Neri Geller pediu demissão da Conab após suspeitas de irregularidades em leilão

A anulação nesta terça-feira do leilão para a compra do arroz pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), para evitar a alta do produto por causa das enchentes no Rio Grande do Sul, reforçou a movimentação dos deputados de oposição e de parte da bancada ruralista pela criação de uma CPI do Arroz.

A instalação de uma Comissão Parlamentar do Inquérito foi sugerida pelo deputado federal Luciano Zucco (PL-RS) no domingo, mas ainda não foi protocolada – para isso, precisa de 171 assinaturas. Para ele, há indícios de fraude, com o aumento do capital social da principal vencedora do leilão dias antes do certame, e possível direcionamento da licitação.

Após o cancelamento, deputados contrários ao governo saíram nas redes sociais para defender a investigação. “A cada novo desdobramento, a trama vai ficando ainda mais enrolada. Não dá para o (des)governo tentar esconder a escandalosa marca de batom na cueca: a CPI tem que avançar”, afirmou o líder da oposição na Câmara Filipe Barros (PL-PR).

Se a CPI alcançar o apoio mínimo e for protocolada, cabe ao presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), decidir se há fato determinado e justa causa para apuração. É improvável, neste momento, que a comissão saia do papel porque há uma lista de mais de 10 pedidos de CPI protocolados na frente e que teriam prioridade de instalação.

Interlocutor
O leilão foi cancelado por ordem do Presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva (PT). após suspeitas de irregularidades e levou ao pedido de demissão do secretário de Política Agrícola do Ministério da Agricultura, Neri Geller.

Geller já foi ministro da Agricultura e três vezes secretário da Pasta. Ex-deputado federal, ele era um dos principais interlocutores do setor agropecuário dentro do governo e cabo eleitoral de Lula no Mato Grosso.

Ex-presidente da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), o deputado Sérgio Souza (MDB-PR) afirmou que Neri Geller foi um “boi de piranha” – expressão popular que indica um sacrifício menor para evitar maiores danos. “O governo escolheu alguém para tirar. Ele foi meio que o boi de piranha para superar esse escândalo”, disse.

Souza elogiou o agora ex-secretário, dizendo que conhece muito do setor e mantém boa relação com a bancada, com quem se reuniu há pouco tempo para tratar do Plano Safra. “Era o nosso cara forte lá dentro para ajudar o setor”, afirmou. “É uma pena porque ele exercia isso [interlocução] muito bem. Agora outros [interlocutores] vão surgir”, minimizou.

O fio que liga Geller ao leilão é Robson França, presidente da Bolsa de Mercadorias de Mato Grosso (BMT) e dono de corretoras que intermediaram a comercialização de 44% do volume de arroz negociado no leilão. Ele foi assessor de Geller na Câmara dos Deputados entre 2019 e 2020 e é sócio do filho do agora ex-secretário em uma empresa aberta em agosto de 2023.

O ministro do Desenvolvimento Agrário Paulo Teixeira, afirmou que a decisão de anular o certame tem relação com o fato de que a parte das vencedoras do leilão demonstrou “fragilidade financeira”. “As empresas [vencedoras] demonstraram fragilidade financeira em operar montante de dinheiro público”, disse.

Fonte: Valor Econômico

Compatilhe