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Fila do osso: Brasil retoma o combate à fome, mas realidade ainda desafia discurso oficial

O Dieese aponta que milhões de famílias brasileiras deixaram a linha da extrema pobreza

Em 2021, o Brasil voltou a figurar entre os países com maior índice de insegurança alimentar no mundo. Com o aumento do preço dos alimentos e a queda da renda média ao menor nível em oito anos, segundo o IBGE, cenas como a da “fila do osso” e da disputa por comida em caminhões de lixo chocaram o país e o mundo. Famílias passaram a recorrer a sobras de açougue para sobreviver — e, no Amazonas, em 2022, dezenas de pessoas invadiram o lixão municipal de Humaitá para desenterrar frangos descartados, mesmo impróprios para consumo.

Segundo o IBGE, em 2021, mais de 33 milhões de brasileiros passavam fome, um número alarmante para uma das maiores economias e potências agrícolas do mundo. O país, que já havia sido elogiado pela ONU por seus programas sociais e retirado do Mapa da Fome em 2014, parecia ter regredido anos em políticas de combate à miséria.

Resposta do governo

Com a posse do presidente Lula (PT) em 2023, o governo assumiu como prioridade a retomada das políticas públicas de transferência de renda, segurança alimentar e fiscalização de fraudes em benefícios sociais. O ministro Wellington Dias, à frente da pasta de Desenvolvimento e Assistência Social, destaca que as ações já tiraram milhares da situação de emergência social:

“Mesmo sendo a 10ª maior potência econômica e um dos maiores produtores de alimentos do mundo, nós tínhamos uma situação vergonhosa, 33,1 milhões de brasileiros passando fome”, disse o ministro, ao defender o fortalecimento do Bolsa Família, do Benefício de Prestação Continuada (BPC) e do novo Cadastro Único.

Com apoio da Controladoria-Geral da União, Polícia Federal e outros órgãos, 4,1 milhões de benefícios com indícios de fraudes foram cancelados, gerando uma economia estimada de R$ 34 bilhões ao ano, segundo o Tribunal de Contas da União (TCU). A estratégia permitiu reinvestimento em políticas públicas e reordenamento de prioridades.

Outro dado relevante apresentado por Dias é o de que 16,5 milhões de pessoas do CadÚnico e do Bolsa Família foram admitidas em postos de trabalho em 2023 e 2024.

Avanços e desafios

O Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (DIEESE) aponta que, com a retomada do Bolsa Família, aliado à valorização do salário mínimo e maior regulação dos programas de alimentação escolar e apoio ao campo, milhões de famílias deixaram a linha da extrema pobreza.

Segundo levantamento de 2024, o número de famílias em extrema pobreza caiu de 13,8 milhões em 2021 para cerca de 7,9 milhões em 2024, indicando um avanço considerável. No entanto, o órgão alerta: o fim da extrema pobreza ainda não significa o fim da insegurança alimentar nem do desemprego informal.

Além disso, o DIEESE destaca que o poder de compra do trabalhador brasileiro ainda não voltou ao patamar pré-crise. Os alimentos continuam com peso significativo na cesta básica e o acesso à proteína animal ainda é um desafio para parte da população mais vulnerável.

As medidas de reconstrução social do governo federal trouxeram avanços inegáveis: redução da extrema pobreza, reestruturação de programas sociais e aumento na fiscalização de fraudes. A fala do ministro Wellington Dias encontra respaldo nos dados, mas precisa ser contextualizada com a realidade de quem ainda vive na periferia da fome.

Fonte: tucumã

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