As empresas de navegação MSC e Maersk são as responsáveis pela introdução dessa taxa adicional
Em um movimento que está sendo amplamente criticado, empresas que operam navios de transporte de contêineres para Manaus implementaram uma nova tarifa denominada “taxa de pouca água”. A medida é uma resposta à estiagem severa dos rios amazônicos, que ainda nem começou, mas este ano ameaça ser ainda mais intensa do que a registrada em 2023, quando os níveis de água alcançaram mínimos históricos.
As empresas de navegação MSC e Maersk são as responsáveis pela introdução dessa taxa adicional. A MSC estabeleceu uma tarifa de US$ 5 mil por contêiner, equivalente a R$ 27,8 mil. Por sua vez, a Maersk fixou a cobrança em US$ 5,9 mil, ou R$ 32,8 mil. Este aumento significativo ocorre muito antes do período crítico de seca, contrastando com o ano anterior, quando as sobretaxas foram aplicadas somente em outubro, a um custo de US$ 2 mil por contêiner.
A implementação antecipada e os valores elevados da “taxa de pouca água” geraram forte indignação entre autoridades locais. O secretário de Estado da Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Ciência, Tecnologia e Inovação (Sedecti), Serafim Corrêa, expressou seu repúdio durante uma reunião do Conselho de Administração da Suframa (CAS).
Serafim, classificou a medida como um absurdo, acusando as empresas de aproveitarem a crise para aumentar seus lucros. “Estamos vendo que as operadoras de navegação estão se aproveitando de um momento que ainda nem aconteceu para ganhar dinheiro. Isso daí nós temos que repudiar.”
A crítica de Serafim é reforçada pelo recente aumento no custo do frete marítimo. “Antes, os fretes que eram de US$ 3,5 mil passaram para US$ 11,5 mil. Agora, com mais US$ 5 mil, o frete por contêiner fica entre US$ 16 mil e US$ 16,5 mil”, explicou o secretário. Segundo ele, esses custos adicionais podem anular as vantagens competitivas da Zona Franca de Manaus, um importante polo industrial e econômico da região.
A seca nos rios amazônicos é um fenômeno natural agravado pelas mudanças climáticas. A redução dos níveis de água dificulta a navegação e o transporte de mercadorias, afetando diretamente a economia local. No entanto, a medida tomada pelas empresas de transporte de contêineres é vista por muitos como uma exploração injusta de uma situação crítica.
A MSC e a Maersk, duas das maiores operadoras de logística do mundo, defendem a taxa como uma necessidade operacional diante das dificuldades impostas pela seca. Segundo as empresas, os custos adicionais são necessários para cobrir as despesas com a adaptação das rotas e a manutenção dos serviços durante o período de baixa nos níveis dos rios. Contudo, a justificativa não convenceu as autoridades locais e os empresários da região, que temem os impactos econômicos das tarifas elevadas.
A Zona Franca de Manaus é uma área de livre comércio que oferece incentivos fiscais para atrair indústrias e fomentar o desenvolvimento econômico da região. A competitividade da Zona Franca depende em grande parte da eficiência e do custo do transporte de mercadorias. O aumento nas tarifas de frete ameaça essa competitividade, colocando em risco empregos e investimentos na região.
Diante dessa situação, Serafim Corrêa fez um apelo por uma ação mais rigorosa das autoridades federais contra o que ele considera práticas abusivas das operadoras de navegação. “Eu faço essa manifestação de repúdio aqui no CAS, que considero o fórum competente, esperando das autoridades federais uma providência mais dura em relação aos operadores de navegação”, afirmou o secretário.
A seca nos rios amazônicos e a subsequente resposta das empresas de logística destacam a complexa interseção entre mudanças climáticas, economia e políticas públicas. À medida que a crise hídrica se intensifica, a necessidade de soluções sustentáveis e justas torna-se cada vez mais urgente, para garantir que as comunidades locais não sejam as mais prejudicadas.
A implementação da “taxa de pouca água” pelas operadoras de navegação levanta questões importantes sobre a responsabilidade social e ambiental das empresas em tempos de crise. As decisões tomadas agora terão repercussões duradouras para a economia da região e para a vida das pessoas que dependem diretamente dos rios amazônicos.
Fonte: Am post